Ouvindo o futuro presidente estadual da federação PP/União, explicamos aqui os impactos do gigante siamês nas disputas para o Senado e o Governo do Estado no ES
Se de fato nascer o gigante siamês que será a federação do PP com o União Brasil, seu presidente no Espírito Santo será o deputado federal Josias da Vitória (PP). Essa operação partidária sem precedentes terá profundos reflexos no Brasil inteiro nas próximas eleições gerais, inclusive no Espírito Santo. Para entendermos melhor os desdobramentos locais, conversamos com o próprio Da Vitória.
O governador Renato Casagrande (PSB) pretende ser candidato a senador em 2026 e apoiar um candidato à própria sucessão. Hoje, a aposta maior do Palácio Anchieta para isso é o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB).
No fim de janeiro, pouco antes da eleição da Mesa Diretora da Assembleia, para garantir o apoio do União a esse projeto, Casagrande, Ricardo Ferraço e Marcelo Santos foram a Brasília e se encontraram com o presidente nacional do União, Antônio de Rueda.
Após esse encontro, Marcelo anunciou o compromisso do União em estar no projeto eleitoral liderado por Casagrande e Ricardo no Espírito Santo em 2026. Informou, ainda, que Euclério assumiria a presidência estadual do União – por decisão da direção nacional, no lugar de Felipe Rigoni, após acordo firmado entre Marcelo e Casagrande.
Euclério confirmou o convite recebido de Rueda. Cumprindo sua parte no acordo, Casagrande apoiou a recondução de Marcelo à presidência da Assembleia. Marcelo declarou apoio a Ricardo Ferraço para o governo.
Tudo isso, porém, ocorreu antes da evolução da superfederação com o PP. E agora? Como fica esse acordo (sem a participação do PP e do homem que dirigirá a federação no Espírito Santo)? Seguirá valendo? Foi o que perguntamos diretamente a Da Vitória.
O deputado não chega a dizer que uma borracha será passada nesse acordo, mas dá um passo atrás movido pela cautela: ele mesmo não anunciou acordo algum. “A federação não se dissolve. Estará em um único local. Você não viu nenhum entrevista minha dizendo que estarei no palanque A, B ou C. Tenho muita cautela, até para que possamos declinar um apoio e cumprir esse apoio.”
O União, hoje, está inteiramente no governo Casagrande e em sua base. O PP, por sua vez, está dividido, mantendo um pé em cada canoa: ao mesmo tempo em que faz parte do governo Casagrande, também apoia o governo do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) em Vitória, com a vice-prefeita, Cris Samorini, e, agora, duas secretarias (a de Desenvolvimento da Cidade, com a própria Cris, e a de Assistência Social, com Soraya Manatao), além de ter chancelado a nomeação de Edu Henning, em 2023, para a Cultura.
Pazolini é tratado, hoje, como o principal adversário, potencialmente, do governo Casagrande na próxima corrida ao Palácio Anchieta.
Da Vitória reforça compromisso de união com Casagrande
Da Vitória não assume compromisso eleitoral antecipado com ninguém, mas, em suas declarações à coluna, dá uma sinalização importante de manutenção de seu apoio e sua lealdade a Casagrande.
“No início do ano, você mesmo noticiou algumas vezes o estreitamento do meu diálogo com o governador Renato Casagrande. E, dentro desses estreitamento de diálogo, mantemos o mesmo compromisso de trabalhar para convergirmos e construirmos juntos”, afirma o deputado.
De fato, esse “estreitamento” ocorreu, passando pela nomeação de Marcos Soares, por indicação de Da Vitória, para a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano, no começo de janeiro. O novo secretário é aliado do deputado.
Da Vitória afirma que quer construir o processo eleitoral de 2026 no Espírito Santo em diálogo com Casagrande:
“O governador é o maior cabo eleitoral desse processo. Muita gente que quer ser candidato a governador espera o apoio do Casagrande. Na minha relação com ele, temos o compromisso de construir juntos essa proposta”.
Da Vitória acredita ser possível a união de Pazolini com Casagrande. E trabalhará por isso
Em sua mais impressionante declaração, Da Vitória diz acreditar que seja possível até uma aliança eleitoral entre Pazolini, Casagrande e os respectivos grupos em 2026:
“O governador não pode ser candidato à reeleição, e vamos trabalhar para unir o Espírito Santo o máximo possível. É um direito dos nossos amigos também pleitearem candidatura ao governo. Temos um cronograma a cumprir e vamos trabalhar para fazer caber todo mundo nessa proposta de governar o Espírito Santo mais para a frente. Acredito que possamos ter uma convergência até maior lá na frente, com o Republicanos”.
Mais que isso: Da Vitória afirma que ele, como presidente da federação PP/União, dispõe-se a desempenhar pessoalmente o papel de ponte entre os dois lados:
“Tudo sempre é possível. O diálogo é o instrumento mais forte que existe. E vamos dialogar muito para convergir. É legítimo que haja movimentos de candidatura majoritária fora do grupo de Renato Casagrande. Mas talvez o governador precise de uma ponte para estreitar a relação com outros grupos. Eu posso ser essa ponte.”