Por Paulo Borges
Recentemente um jovem cineasta esteve em São Mateus para apresentar um de seus filmes e, na oportunidade, disse que iria participar nos próximos meses de um festival em Salvador e que já viajou por 27 países. Mas, o que chamou a atenção foi a lembrança do seu tempo de criança quando estudou na Associação Nova Esperança, que recebeu o nome de Escola Egídio Bordoni, homenagem ao seu fundador falecido. Falou da importância daquele estabelecimento na sua formação intelectual e de cidadão.
O que ele não sabia era o fato da sua antiga escola estar ameaçada de ser municipalizada pelo Estado, o que poderá levá-la ao seu fechamento, até porque seus atuais alunos serão alocados para outras escolas do município.
Essa possibilidade vem preocupando pais e profissionais da educação, por isso estão movimentando a sociedade mateense para que ajude a sensibilizar o governo estadual a não municipalizar a escola.
A escola está localizada na BR-101, em frente a antiga sede da Petrobras.
História e legado

Luigia Bordoni.
A Escola Egídio Bordoni foi fundada pelo casal italiano Egídio e Luigia Bordoni há 53 anos, com o nome de Associação de Moradores Nova Esperança, foi criada para oferecer apoio a famílias de bairros carentes do município. O foco principal da ação eram crianças e adolescentes, por meio de atividade educativas, tornando referência no município e um patrimônio de São Mateus. Dona Luigia, como era chamada carinhosamente, explicava que para estudar na unidade, os pais dos alunos deveriam receber dois salários mínimos. Alunos do 1º ao 5º ano estudam em tempo integral (7h às 17 h). Para alegria da sua fundadora, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), classificou com média 7,3, o que a levou a ser uma das melhores do Estado, por sua grade curricular diferenciada.
Por ser uma escola de tempo integral, muitos pais que necessitavam trabalhar tinham, naquela unidade de ensino lugar para deixarem seus filhos em segurança e bem assistidos.
Vale ressaltar que durante o governo do ex-prefeito de São Mateus, Pedro dos Santos Alves, as creches do município foram herdadas em situações precárias. Diante disse, surgiu a intenção de se buscar uma pessoa que pudesse colaborar para as melhorar as creches do município. Havia uma creche, da Associação Nova Esperança que era um exemplo. Pois bem, o ex-secretário de Planejamento, hoje historiador Eliezer Nardoto, sugeriu contratar a responsável pelo trabalho de excelência feito naquela unidade (Nova Esperança): Luigia Bordoni. Como havia dificuldade em seu nome ser aprovado pela Câmara Municipal para coordenar todas as creches do município, Nardoto levou alguns vereadores para visitarem a creche da Dona Luigia e depois as da municipalidade. Não houve nenhuma dúvida que ela deveria ser a coordenadora das creches do município. Esse é mais um legado dessa italiana que, junto com o seu marido Egídio, veio para São Mateus trazendo um sonho de educar, acolher crianças
e adolescentes de famílias humildes para formá-las, dá-lhes dignidade para que tornassem cidadãos de bem. Os exemplos estão espalhados pelo Brasil.
Dona Luigia faleceu em maio de 2021, aos 83 anos, devido a complicações por conta da Covid-19, mas fazia também tratamento contra um câncer. Deixou exemplo de generosidade e amor ao próximo, principalmente as crianças e adolescentes mateense que tiveram o privilégio de terem acessos aos seus conhecimentos e sabedoria.
Dona Luigia está sepultada na escola que havia fundada, com Seu Egídio, há 53 anos atrás.
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