Podemos esperar uma bet como patrocinadora máster?
Após três anos de mandato, falta algo para a senhora?
Mais três anos (risos). A administração do Palmeiras comprova que um clube, se administrado com responsabilidade e boa fé, pode ser vitorioso. O caminho é esse: credibilidade, bom senso, não querer agradar a todo mundo, falar a verdade, honrar os compromissos. Principalmente ter credibilidade, que é o que falta ao futebol brasileiro. Gostaria de mais três anos. Depois, não quero mais. Tudo tem um ciclo. O da patrocinadora vai terminar agora, e o de presidente, se eu for reeleita, daqui a três anos. Vou continuar no Palmeiras, colaborando com o próximo presidente, desde que ele siga essa nossa linha de profissionalismo. Porque, para construir, demora-se. Mas, para destruir, basta um ano.
Tem gente que passa a vida inteira sem saber onde é o seu lugar, não é? Eu achava que o meu fosse nas minhas empresas, mas não. Descobri que meu lugar é no futebol. Me sinto à vontade, porque sou a mesma pessoa conversando com você e nas empresas. Por isso me veem com credibilidade. O futebol é um produto tão espetacular que precisa de dirigentes como a do Palmeiras. Não estou me vangloriando. É que aqui está dando certo. Mas precisamos da CBF para punir maus administradores. O futebol é muito permissivo. Você não vê ninguém ser processado, penalizado… Quebram clubes, lesam milhões de torcedores, e não acontece nada.
O que a senhora pensa sobre a implementação de um fair play financeiro no Brasil?
No Palmeiras, criei meu fair play. Porque não vou comprometer o clube. Ele deveria ser implementado no Brasil inteiro. E não falo de um fair play financeiro muito rigoroso, senão você acaba com o futebol brasileiro. Mas um com limitações.
Se você não consegue pagar em dia as compras de atletas e os salários deles, não pode contratar. Deveríamos começar assim, com um fair play financeiro light. Porque é injusto. Eu disputo pagando direitinho e não posso, às vezes, fazer contratações para não prejudicar meus compromissos. E há clubes que não querem nem saber. Aliás, não sei como vendem para determinados clubes. Mas isso tem que partir de cima. A CBF deveria criar uma limitação. Se tiver que partir dos clubes, não vai acontecer. Porque é interesse de alguns seguir como estão. E não estou dando indireta. Torcedor é muito emocional. Quem tem que ser racional é o gestor. E o gestor mal-intencionado tem que ser punido.
A senhora sofreu ameaças ao longo dos anos. Preocupa-se?
Sou corajosa, mas não sou boba. Muitas coisas que fazia antigamente, não faço hoje. E olha que o Palmeiras é um clube vitorioso. Ando com segurança, não frequento lugares com muita gente, não vou a shopping… Quando quero um pouco de liberdade, vou para meus apartamentos no exterior. Vou para Nova York, para a Califórnia, e passeio por lá. Mas o meu grande prazer é estar aqui no Palmeiras.
Um ponto em que a senhora e seu opositor, Savério Orlandi, concordam é a manutenção do técnico Abel Ferreira até 2027. Há negociações?
Ainda não. Abel tem contrato até dezembro de 2025. Se for reeleita, meu desejo é que fique até o fim de 2027. Mas não conversamos sobre isso, nem é o momento. Estamos focados em conquistar o título brasileiro. Se reeleita, conversamos. Se for possível, ótimo. Se não for, fazer o quê? Mas vou lutar. E, quando luto, eu consigo.
A senhora disse ao GLOBO, em 2022, que queria tornar o Palmeiras cada vez mais vencedor. E acabará seu primeiro mandato como a presidente com mais títulos na história do clube (até aqui, são sete no profissional e 31 ao todo). Qual é seu favorito?
Todos são muito importantes.
A Copa São Paulo, que nunca havíamos conquistado. Tinha até uma musiquinha, e acabamos com ela. Acabamos sim, porque nós temos o Mundial, tá? Foi bacana, foi importante para valorizar a nossa base. Hoje, o Brasil e o mundo estão olhando para a base do Palmeiras.
Como anda sua relação com o americano John Textor, dono da SAF do Botafogo?
Fiz um elogio à administração do Botafogo quando eles vieram jogar aqui. O trabalho deles é fantástico, senão não estariam na situação em que estão. Só fiquei revoltada no ano passado. Mas eu não conversei com o Textor. Foi com os diretores que estiveram aqui, Pedro Martins (diretor de futebol) e Alessandro Brito (diretor de gestão esportiva). Falei: “Vocês sabem a dificuldade que é disputar um Campeonato Brasileiro. É um dos mais concorridos e disputados do mundo. E nós vencemos no ano passado por mérito exclusivo do Palmeiras”. Não posso deixar que diminuam um trabalho fantástico que todos nós — profissionais, atletas, gestão — nos esforçamos muito para conseguir. O meu desabafo não foi contra a instituição Botafogo, contra os torcedores, contra os atletas. Mas sou uma mulher que olha para frente. Isso é passado.
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O Palmeiras vai jogar o novo Mundial de Clubes, em 2025. Qual é o planejamento em relação a contratações? Fala-se em Gabriel Jesus…
Gabriel Jesus não vem. Nós entramos em contato com o Arsenal, e eles falaram: “Leila, não tem condição nenhuma. Não vamos negociar o atleta”. Encerrou o assunto. A nossa base são esses atletas que já estão conosco e são extremamente vencedores. Há algumas posições que Abel gostaria de reforçar, mas já vou te adiantar: esquece estrela. A grande estrela do Palmeiras é o elenco. Eu não acredito em ídolos. O que ganha campeonato é o conjunto. Sei que o torcedor não gosta disso, mas é a pura verdade. Você pode até gostar muito de um atleta porque ele se destacou em um campeonato, mas quem ganha é a equipe.
Outro nome no radar do clube foi o do Gabigol, em reta final de contrato com o Flamengo.
Vou falar bem claramente: Gabigol também não vem. É um grande jogador, mas não vem para o Palmeiras. Só para não criar especulações.
A senhora diz não acreditar em ídolos. Recentemente, foi elogiada por uns e criticada por outros pela condução do caso Dudu, que chegou a ser anunciado pelo Cruzeiro. Se pudesse, mudaria algo?
Pelo momento, não. Hoje é outra história. Ele tem contrato até dezembro de 2025, e o Palmeiras vai honrar o compromisso. A menos que apareça uma proposta interessante para o atleta e o clube, aí conversamos. Mas não me arrependo da minha manifestação lá atrás.
É possível vermos, no futuro, a senhora como patrocinadora ou dirigente de outro clube? E na seleção brasileira?
Minhas empresas jamais vão patrocinar outro clube. Isso, vou a um cartório e assino. Não consigo imaginar minhas marcas em outro clube. Depois que sair do Palmeiras, se for para colaborar com o futebol brasileiro, estarei sempre à disposição. Mas sou uma mulher que não olha a longo prazo. Eu olho a curto prazo. A vida é agora. Vou continuar fazendo meu trabalho aqui no Palmeiras, e daqui três anos vemos o que vai acontecer.
Fala-se muito da sua relação com o Vasco. Um acordo para comprar os naming rights após a reforma de São Januário, por exemplo, é impossível?
O pessoal me relaciona ao Vasco porque meus irmãos são vascaínos e meu pai também era. Eu nunca fui. Mas acho engraçado. Em 2018, quando eu era patrocinadora, teve um Palmeiras x Vasco em São Januário, e falavam: “Tia Leila, patrocina o Vasco”. Gosto muito desse apelido (risos). Mas eu falei que não podia. Aí, de repente, a torcida do Vasco inteira cantou: “au, au, au, tia Leila é bacalhau” (risos). Achei tão engraçadinho. Fiquei emocionada, porque nunca vi um negócio desses. Isso é respeito que o torcedor tem pelo dirigente de um time rival. Se o Palmeiras é gigante, é porque ele joga com clubes gigantes. Do que adiantaria jogar com quem não têm o mesmo nível, financeiro ou técnico? Não tem graça. Então, você tem que gostar do seu rival.
Não fecho portas. Se acharem que posso colaborar no futuro, estaria à disposição.