Claudia Telles era uma das vozes mais bonitas da música popular brasileira
Morreu na noite desta sexta-feira no Rio de Janeiro a cantora Claudia Telles, de 62 anos. Ela passava por sérios problemas de saúde desde meados do mês passado e estava internada no Hospital Ronaldo Gazola. Ela, ainda internada, parecia estar se recuperando quando sofreu um enfarte e parada cardíaca, voltando para o CTI e veio a óbito por volta das 23 horas.
Claudia Telles era filha da cantora Silvinha Telles, falecida em um acidente automobilístico aos 32 anos, em Niterói. Da mãe, Claudia herdou a bela voz e a paixão pela música.
O jornalista Paulo Borges ano passado esteve em um longo bate papo na casa de uma amiga em comum, no Rio, quando conversaram sobre vários assuntos, entre eles o mercado artístico brasileiro e a falta de memória nacional e valorização dos seus grandes intérpretes. Na oportunidade ela falou que, apesar de tudo era requisitada para agendas musicais e apresentação em programas de TV como o do Ratinho, no SBT. “Não foi uma entrevista, foi um papo de amigos que só me enriqueceu no conhecimento de um tempo em que a música era feita com mais zelo e talento”, disse o jornalista, lembrando dessa conversa que teve com Claudia e muito sentido ao saber do falecimento dessa grande e talentosa artista.
Quem foi essa talentosa artista do Brasil
Claudia iniciou sua carreira fazendo coro para artistas famosos em suas gravações, entre eles Fevers, Roberto Carlos, José Augusto, Gilberto Gil, Jerry Adriani, Jorge Ben, Belchior, Simone, Rita Lee, Fafá de Belém, entre vários outros. Sua chance de “brilhar” veio, entretanto, quando uma amiga do Trio Esperança, Regina, precisou se afastar do grupo por causa da gravidez, Claudia a substituiu em gravações e shows, ganhando experiência de público. Daí para frente ela se dedicaria completamente à arte musical. Além das gravações em estúdio, Claudia foi crooner do conjunto de Chiquinho do acordeon, um dos mais conceituados da época, durante um ano. Saiu quando Walter D’Ávila Filho, ao escutar uma música nova de seu parceiro e também produtor na época da CBS (hoje Sony Music) Mauro Motta, se lembrou dela e de sua voz – um pouco parecida com a da mãe, mas com um timbre metálico, diferente das vozes que havia no mercado e deu-lhe, a título de experiência a “tal” música para gravar. O sucesso foi estrondoso. A música logo passou aos primeiros lugares das paradas. Todos queriam saber de quem era aquela voz suave e vieram os diversos convites para programas de televisão. O público jovem se identificou imediatamente com aquela menina de cabelos escorridos, tímida, que lhes derramava versos de amor. “Fim de Tarde” foi um dos grandes sucessos daquele ano de 1976 e agora menina-mulher, amadurecida pelo tempo e pelas circunstâncias, conhecia a fama. Foram vendidas mais de 500 mil cópias do compacto simples, o que lhe valeu o primeiro disco de ouro da carreira, oportunidades para excursionar e também para gravar a música em inglês e espanhol. Aos 19 anos, Claudia se projetava nos mesmos caminhos antes trilhados com incomparável êxito pela mãe. Passou então a ser requisitada para shows, cantando do samba ao bolero. Mas sua paixão era a Bossa Nova, chegando a ser considerada a mais perfeita intérprete de “Dindi”, uma das muitas músicas que havia feito de sua mãe uma celebridade e unanimidade nacional, ultrapassando as fronteiras do Brasil. No seu primeiro LP, em 1977, Claudia regrava “Dindi”, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, grande sucesso na voz de sua mãe, e faz mais dois grandes sucessos, “Eu preciso te esquecer” e “Aprenda a amar”. A primeira foi tema principal da novela “Locomotivas” da Rede Globo, dos mesmos compositores de “Fim de tarde”, que também vem fechando esse LP, e a segunda de autoria de Claudia com Walter D’ávila Filho. Nesse disco, Claudia faz uma homenagem aos “Beatles”, regravando “And I love her” e se lança como compositora, com três canções suas. O LP seguinte, em 1978, também foi produzido por Lincoln Olivetti, e teve como música de trabalho “Miragem” de Mariozinho
Rocha, Renato Correa e Paulo Sérgio Valle, essa música seria defendida num festival por Claudia, mas acabou não acontecendo, e virou carro chefe desse lp, todas as músicas inéditas, parcerias de Claudia com Peninha, com o próprio Lincoln e Ronaldo Bastos. Um lp com músicas dançantes, o verdadeiro “Funk” dos anos 70 e músicas souls românticos de compositores brasileiros. Mas Claudia mais uma vez homenageia sua mãe, regravando “Primavera” de Carlos Lira e Vinícius de Morais.
Ficou a lembrança e o legado dessa grande artista brasileira.