Por Paulo Borges *
É uma verdade, os pais e seus filhos autistas não têm recebido assistência devida pela municipalidade. Muitas dessas crianças estão sem frequentarem a escola devido à falta de professores auxiliares habilitados e cuidadores para atenderem essa clientela que necessita de atenção especial.
Os pais estão desesperados pelo descaso da Prefeitura de São Mateus, consequentemente com a Secretaria Municipal de Educação. O processo seletivo foi feito para a Saúde e Educação, os aprovados chegaram a providenciar toda a documentação e acabou cancelado. Haviam irregularidades no projeto encaminhado à Câmara de Vereadores. Chegou até ser aprovado, mas foi anulado pelo Executivo e passados cinco meses, não foi elaborado outro para que fosse apreciado novamente pela Câmara e que, uma vez aprovado, poderia haver as contratações para suprirem as demandas da Educação e Saúde.
Alunos com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) tiveram sérios problemas na escola e até se feriram pela falta de assistência de um profissional habilitado. A Prefeitura até contratou alguns estagiários, em detrimento dos funcionários preparados para lidar com esses alunos e que foram classificados no processo seletivo e não contratados. “Esse é um processo indicativo e não seletivo”, pontuou o vereador Carlinho Simião (MDB), insinuando que os que foram contratados foram indicados por motivo político.
Promessa não cumprida
O prefeito de São Mateus, Daniel Santana (sem partido) havia se reunido com pais de crianças autistas prometendo reformar o antigo prédio do Pronto Socorro Municipal e ali instalar um centro de assistência aos autistas, com toda a estrutura incluindo médicos e assistentes sociais. Mas, passaram meses e essa promessa nunca foi cumprida e, pelo tempo de mandato que resta do atual chefe do Executivo, isso não vai acontecer. Até mandou na última semana iniciar uma limpeza no prédio querendo mostrar que vai fazer alguma coisa.
São Mateus não tem um centro especializado para tratar dessas crianças e nem disponibilizar o suporte necessários aos pais, que são obrigados a buscar tratamento em Nova Venécia e até mesmo em Colatina.
“A Prefeitura cede o transporte o que não propicia uma viagem tranquila, até porque quem tem TEA tem, normalmente TDH e é estressante conter uma criança por muito tempo dentro de uma condução”, relata Fabrícia Aurélio, mãe de um filho autista. “Por isso é necessário que tenha um centro para tratamento de nossas crianças”, completa.

Situação atual do prédio onde funcionava o antigo pronto socorro.
Vale ressaltar que o prédio que foi do Pronto Socorro, mesmo se vier reformado, é inadequado uma vez que não há condições de dar atenção a mobilidade e não há espaço para que as crianças autistas possam circular. “Melhor se derrubasse e fizesse um centro com todas as condições e requisitos que são exigidos para tratar e receber as crianças portadoras de TEA”, pontua Fabrícia. “Não basta construir ou reformar é preciso um projeto antes de pensar em executar tal obra”.
Descaso educacional e de saúde
A situação é caótica. As crianças autistas têm o seu ano letivo prejudicado. Faltam professores auxiliares e cuidadores nas escolas. Os que ainda tinham tiveram seu número reduzido, o que impactou na frequência dos alunos com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A maioria não está indo à escola.
A questão do autismo tem sido pauta em todo o país, mas o município de São Mateus tem andado na contramão de tudo que é importante e necessário para a sociedade e os cidadãos mateenses. Por isso, as crianças portadoras de TEA e seus pais estão abandonados à sua própria sorte. Não tem um centro de atendimento e tratamento específico para que tenha disponível terapia ocupacional, o conjunto de análise do comportamento que possibilite o tratamento e outros métodos apropriados.
Somado a todo esse cenário, o setor de saúde do município não disponibiliza um número suficiente de neuropediatras para emitir os laudos, pois a demanda é grande e a disponibilidade de vagas para a consulta é demorada. “É difícil conseguir vaga para o atendimento”, reclama uma mãe de filho autista.
Existe uma outra “via crucis” para os pais, que se desdobram para levar seus filhos para atendimento particular e não é barato. Também são necessários remédios necessários no tratamento que são muito caros. E ainda, para ter acesso a algum remédio é preciso ficar em fila aguardando a disponibilidade, enquanto é preciso pegar uma receita mensalmente. Alguns pais procuram a defensoria pública para conseguir através da Justiça remédios caros e que o Estado teria de disponibilizar, o que não o faz.
Em São Mateus tem Casa Casulo, uma clínica particular, mas conseguir uma vaga não é fácil.
Em vários municípios onde existem centro específico de atendimento estão saturados devido à grande demanda. São poucos e por esse motivo existe uma demanda reprimida. “O tratamento do autista tem início e não tem fim, até porque não tem cura e o tratamento ajuda a dar melhor qualidade de vida ao paciente e a sua família”, enfatiza Fabrícia Aurélio.
O Autismo e a Política
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem sido assunto discutido em várias esferas, não só da saúde, também na política. Várias manifestações de conscientização têm sido feitas e recentemente aconteceu na orla de Camburi com a adesão de autoridades, dentre elas o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini e o governador do Estado, Renato Casagrande. A outra foi realizada em Santa Teresa, cuja organização principal coube a Pestalozze e que reuniu autoridades, comerciantes, pais de autistas, e vários segmentos da sociedade local.
A presidente da Amaes, Pollyana Paraguassú, tem se empenhado na conscientização da sociedade e das autoridades para a questão do Transtorno do Espectro Autista.
“O nosso partido é o autismo, a nossa cor é azul, o nosso número é 12764- Lei que Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Os nossos sonhos não cabem em uma gaveta”, destacou.
Os sinais do autismo
Alguns sinais do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) surgem a partir de 1 ano e meio de idade, podendo surgir até mesmo antes, em casos mais graves. Veja alguns deles:
* Não manter contato visual por mais de dois segundos; * Fazer movimentos repetitivos sem função aparente; * Alinhar objetos; * Não atender quando chamado pelo nome; * Hiperfoco: apresentar interesse restrito por um único assunto; * Escolalia: repetir frases ou palavras em momentos inadequados, sem a devida função;
* Ser muito preso a rotinas a ponto de entrar em crise.
Vale lembrar que a cor azul, que representa o TEA é pelo fato da prevalência ser, em média, de quatro homens para cada mulher com o transtorno.
Autismo
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição que afeta o comportamento social, a comunicação e a linguagem.
A pessoa autista pode desenvolver manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades
Alguns Sinais de alerta no neurodesenvolvimento da criança podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, sendo o diagnóstico estabelecido por volta dos 2 a 3 anos. A prevalência é maior no sexo masculino.
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* Com informações de entidades e profissionais dessa questão
* Fotos/Ilustração: Assessoria do vereador Gilton Gomes (São Mateus) / Redes Sociais