Privação de sono e distúrbios como apneia e insônia podem desencadear arritmias e piorar o controle da pressão arterial
Dormir bem não é luxo; é prevenção cardiovascular. Durante o sono de qualidade, pressão arterial e frequência cardíaca caem (fenômeno chamado de “descenso noturno”), permitindo a recuperação do sistema circulatório. Quando o sono é fragmentado — por apneia, ronco intenso ou insônia — esse descanso do coração não acontece. O resultado são picos de adrenalina, elevação da pressão e sobrecarga cardíaca, que a longo prazo favorecem inflamação, remodelamento das câmaras cardíacas e alterações da condução elétrica, terreno fértil para arritmias, como a fibrilação atrial.
“Cuidar do sono pesa tanto quanto controlar colesterol, pressão e glicemia.”
Como o sono ruim afeta o coração
A apneia do sono provoca pausas respiratórias repetidas, com quedas de oxigênio e “descargas” adrenérgicas, mantendo o coração em estado de alerta. Já a insônia e a privação crônica (menos de seis horas por noite) estão associadas à hipertensão, pior controle metabólico e maior risco de arritmias. O ronco alto, por sua vez, causa microdespertares constantes que impedem o repouso cardiovascular.
Esses mecanismos, quando mantidos por meses ou anos, contribuem para aumento da pressão arterial, espessamento e dilatação das câmaras cardíacas e instabilidade elétrica — fatores que elevam o risco de fibrilação atrial e outras arritmias.
Fique atento se você ou seu parceiro percebem ronco alto, pausas na respiração, engasgos noturnos, sonolência diurna, irritabilidade, cansaço matinal ou lapsos de memória. Palpitações ao acordar, dores de cabeça matinais, boca seca, tontura, queda de desempenho e piora da pressão arterial também são sinais de alerta.
A avaliação médica pode incluir polissonografia (padrão-ouro), eletrocardiograma, Holter e exames laboratoriais, além da estratificação de risco cardiovascular. Nem todos os exames são necessários em todos os casos — o médico define o melhor plano de investigação.
Tratamentos e estratégias eficazes
O tratamento da apneia moderada ou grave costuma envolver o uso de CPAP, aparelho que mantém as vias aéreas abertas e reduz a sobrecarga do coração. Outras abordagens incluem:
rotinas regulares de sono
evitar álcool, cafeína e telas à noite
controle de peso e atividade física
tratamento de refluxo e congestão nasal
terapia cognitivo-comportamental (TCC-I) para insônia crônica
aparelhos intraorais, em casos selecionados
Tratar distúrbios do sono pode melhorar a pressão arterial, reduzir os despertares, diminuir palpitações e elevar o humor.
A fibrilação atrial (FA) é a arritmia sustentada mais comum. Distúrbios do sono aumentam o risco de ocorrência, favorecem a recorrência após tratamento e dificultam o controle da pressão e dos sintomas. Tratar a apneia e melhorar a higiene do sono faz parte da estratégia integrada para reduzir crises e melhorar a qualidade de vida.
Pessoas com hipertensão de difícil controle, arritmias recorrentes, insuficiência cardíaca, obesidade central, refluxo ou histórico familiar devem priorizar a avaliação do sono.
Higiene do sono: por onde começar
Estabeleça horários fixos para dormir e acordar, mesmo nos fins de semana. Reduza o uso de telas à noite, escureça o quarto, evite refeições pesadas e cafeína à tarde. Se roncar, evite álcool, ajuste travesseiro e prefira dormir de lado. Sestas curtas (<30 minutos) podem ser benéficas, desde que feitas até o meio da tarde.
Conclusão
Priorizar o sono é uma escolha que protege o coração. Se você identificou sinais de alerta, procure avaliação médica. Melhorar a qualidade do sono pode reduzir o risco de arritmias, ajudar no controle da pressão e aumentar seu bem-estar.
Estudo técnico divulgado pelo Sindicato dos Centros de Formação de Condutores do Espírito Santo (Sindauto-ES), aponta que a medida traria retrocessos à segurança viária e impacto financeiro ao sistema público de saúde.
O fim da obrigatoriedade das aulas teóricas e práticas para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) pode representar um grave retrocesso nas políticas de segurança viária e de saúde pública. É o que revela o estudo elaborado a pedido do Sindicato dos Centros de Formação de Condutores do Espírito Santo (Sindauto-ES).
Segundo o estudo, apresentado nesta semana, a desobrigação das aulas nos Centros de Formação de Condutores (CFCs) teria como consequência o aumento significativo no número de acidentes, mortes e internações hospitalares no Estado. Apenas em 2024, o Espírito Santo registrou 985 mortes no trânsito, o maior número da série histórica recente, e 7,4 mil internações por acidentes de transporte, gerando custo direto de R$ 107 milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS).
As projeções indicam que, sem a formação obrigatória, o número de sinistros pode crescer entre 8% e 15%, elevando as mortes para mais de 1.100 por ano e os gastos hospitalares para até R$ 123 milhões anuais. “A formação de condutores é uma política pública de prevenção. Retirar essa etapa é um retrocesso civilizatório, que traria impacto direto à vida das pessoas e às finanças do Estado”, destaca Gabriel Couzi, presidente do Sindauto.
O levantamento mostra que 60% das vítimas de trânsito no Espírito Santo são motociclistas jovens, grupo mais exposto à imprudência e à falta de preparo técnico. O Estado tem uma das maiores taxas de motorização do país, com uma motocicleta para cada quatro habitantes, cenário que reforça a importância de manter e aprimorar a formação dos novos condutores.
“Mais de 90% dos acidentes têm causa humana. Por isso, investir em educação para o trânsito é investir na vida e na sustentabilidade fiscal”, reforça Gabriel Couzi, presidente do Sindauto.
Os custos totais dos acidentes de trânsito no Espírito Santo chegam a R$ 1,2 bilhão por ano, considerando gastos médicos, previdenciários e perdas produtivas. O fim da obrigatoriedade das aulas poderia gerar até 150 novas mortes e mais de mil internações adicionais a cada ano, com impacto financeiro estimado em R$ 16 milhões anuais ao SUS.
O levantamento destaca que o custo médio de formação de um condutor é de R$ 680, valor considerado irrisório diante do custo social de R$ 791 mil por morte no trânsito, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). “Cada real investido em educação no trânsito retorna em economia de dezenas de reais em despesas hospitalares e indenizações”, fala o presidente do Sindauto.
Os especialistas alertam que a desregulamentação poderá ampliar o número de condutores inexperientes nas vias públicas, elevando o risco de colisões, atropelamentos e mortes.
Gabriel Couzi destaca que o estudo abrangeu informações coletadas do Conselho Regional de Psicologia de Santa Catarina (CRP-12), que considera a proposta tecnicamente equivocada e eticamente preocupante, por eliminar o papel do psicológico e pedagógico dos futuros motoristas que requerem condições cognitivas e emocionais.
“Habilitar-se é mais do que aprender a dirigir, é compreender riscos, responsabilidades e limites pessoais”, lembra Gabriel, do Sindauto.
O estudo conclui que a extinção das aulas obrigatórias não resultaria em desburocratização, mas em desproteção social. O estudo defende o aprimoramento do modelo atual, com uso de tecnologias educacionais, metodologias modernas e integração entre políticas públicas de mobilidade e cidadania.
“A prevenção educacional custa muito menos do que tratar as consequências da imprudência. Manter a formação obrigatória é preservar vidas, reduzir custos públicos e fortalecer a cultura de responsabilidade no trânsito”, finaliza Couzi, presidente do Sindauto.
🔎 Principais números do estudo: – 985 mortes no trânsito capixaba em 2024 — maior número desde 2017 – 7,4 mil internações hospitalares e R$ 107 milhões em custos ao SUS – 60% das vítimas são motociclistas jovens – Extinção das aulas pode gerar até 150 novas mortes e 1.000 internações/ano – Impacto financeiro adicional: R$ 16 milhões ao SUS – Custo médio de formação: R$ 680 por condutor
A investigação clínica e epidemiológica foi iniciada após funcionários do hospital serem internados com sintomas respiratórios
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) emitiu uma nota técnica com algumas medidas para o Hospital Santa Rita, após a internação de funcionários em função de um surto de infecção respiratória de origem desconhecida. O documento ao qual o Folha Vitória teve acesso traz orientações para os profissionais de saúde.
A investigação clínica e epidemiológica foi iniciada no dia 19 de outubro, mas, segundo o secretário de Estado da Saúde, Tyago Hoffmann, o agente causador da contaminação ainda é desconhecido.
Até o momento, a Sesa e a Vigilância Municipal continuam em acompanhamento técnico contínuo, monitorando os casos notificados e aguardando resultados laboratoriais conclusivos.
Definição e notificação de casos suspeitos
As autoridades estabeleceram alguns critérios para a definição de casos suspeitos para orientar o fluxo de notificação. Com isso, um paciente se enquadrará como caso suspeito se tiver vínculo epidemiológico com o Hospital Santa Rita após o dia 20 de setembro de 2025 e apresentar:
1. Febre e pelo menos dois dos seguintes sintomas: mialgia, cefaleia ou tosse. Mas este paciente não pode apresentar dor de garganta, coriza, distúrbios olfativos ou distúrbios gustativos; ou
2. Febre e alteração radiológica, e pelo menos um dos seguintes sintomas: mialgia, cefaleia ou tosse.
De acordo com a Sesa, todo caso que se encaixe nesta definição deverá ser notificado em até 24 horas no sistema eSUS-VS, incluindo o vínculo com o Hospital Santa Rita, sintomas, exames realizados e outros dados relevantes.
Considerando que o agente etiológico responsável pela contaminação ainda não foi identificado, o Laboratório Central (Lacen-ES) está realizando a coleta de diversas amostras para garantir a cobertura analítica.
As análises envolvem amostras biológicas e ambientais. Segundo a Sesa, as coletas de amostras (tanto ambientais quanto biológicas) devem ser realizadas antes de qualquer manipulação do ambiente (como limpeza/desinfecção) ou do paciente (como início de tratamento).
As metodologias laboratoriais em uso incluem:
• Vírus Respiratórios: RT-qPCR para SARS-CoV-2, Influenza A/B, vírus sincicial respiratório, rinovírus, metapneumovírus, além de um painel expandido para outros 18 vírus respiratórios.
• Arboviroses: pesquisa molecular para zika, chikungunya, dengue, mayaro e Oropouche.
• Bactérias e fungos: culturas, sorologia (para fungos), detecção de antígenos de Legionella pneumophila na urina, e testes como MALDI-TOF e sequenciamento genômico (análise metagenômica).
Protocolo de tratamento
A nota técnica orienta como devem ser atendidos os pacientes considerados casos suspeitos, indicando quando é necessária a internação e quando o tratamento pode ser feito de forma ambulatorial.
Para pacientes ambulatoriais (sem internação) recomenda-se, minimamente, raio X de tórax, hemograma completo e dosagem de Proteína C Reativa (PCR). Se o raio X ou o PCR estiverem alterados, deve-se iniciar um dos dois esquemas definidos de tratamento antibiótico por 10 dias.
Para pacientes com indicação de internação, além de exames mais aprofundados (tomografia de tórax, hemoculturas, gasometria arterial, lactato, função renal/hepática), o tratamento, caso o raio X ou PCR estejam alterados, segue os mesmos esquemas medicamentosos determinados, dependendo da disponibilidade local.
Pacientes que se enquadrem na definição de síndrome gripal e possuam vínculo epidemiológico devem ser acompanhados até a resolução dos sintomas e testados para covid-19, Influenza e outros vírus respiratórios.
Recomendação de precauções para aerossóis
Segundo a Sesa, devido ao atual desconhecimento do agente que causou a contaminação, o mecanismo de transmissão não pode ser determinado com precisão. Embora existam indícios de possível transmissão ambiental, a transmissão de pessoa para pessoa não pode ser descartada.
Por isso, além das precauções padrão, a Sesa recomenda a implementação adicional de precauções para aerossóis em todos os serviços de saúde, até que novas evidências científicas estejam disponíveis.
Medidas de prevenção e controle:
• Higiene das mãos: deve ser rigorosamente aplicada, usando preparação alcoólica ou água e sabonete, especialmente nos cinco momentos estabelecidos pela OMS.
• Limpeza e desinfecção: as superfícies frequentemente tocadas devem ter a frequência de limpeza intensificada, especialmente em áreas críticas.
• Isolamento: a acomodação dos casos deve ser em quarto privativo com porta fechada e bem ventilado (com exaustão adequada ou janelas abertas).
• Duração: o paciente deve permanecer sob precauções até a alta hospitalar.
A nota técnica da Sesa ressalta que visitas aos pacientes em questão devem ser evitadas e que os pacientes não devem ser movimentados desnecessariamente dentro da instituição.
A nota foi assinada por diversas autoridades da Sesa, incluindo o subsecretário de Estado de Vigilância em Saúde, Orlei Amaral Cardoso; e o coordenador-geral do Lacen, Rodrigo Ribeiro Rodrigues.
Na manhã deste domingo (26), o secretário Tyago Hoffmann e uma equipe da Sesa se reuniram com a diretoria do Hospital Santa Rita para definir ações para os próximos dias.
Esse aqui é um hospital de referência para o tratamento de oncologia na Região Metropolitana, para todo o Estado. E tem pacientes que fazem um acompanhamento do seu problema ambulatorial aqui. Então, esses pacientes precisam vir para dar continuidade aos seus tratamentos, porque senão eles podem ter seu problema eventualmente agravado.”
Tyago Hoffmann, secretário estadual de Saúde
O secretário salientou que uma equipe da Sesa atua permanentemente dentro do hospital e que todos os cuidados estão sendo tomados.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, Hoffmann afirmou que o hospital é seguro e orientou os pacientes oncológicos a não interromperem os tratamentos.
Novos casos suspeitos são investigados
A Sesa informou que 12 acompanhantes de pacientes que passaram pelo setor afetado pelo surto apresentaram sintomas, estão sendo acompanhados e são considerados casos suspeitos.
A secretaria também atualizou o número de funcionários confirmados dentro do que chama de vínculo epidemiológico. Mais sete trabalhadores foram confirmados com a infecção, totalizando 33 funcionários afetados.
Desses 33, oito permanecem internados, três deles em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). “Dos três que se encontram em UTI, dois estão evoluindo muito bem e podem, se continuarem evoluindo como estão, ter alta nos próximos dias da UTI. Uma encontra-se em estado mais grave. É uma técnica de enfermagem de 48 anos que está aqui no Hospital Santa Rita”, informou Tyago Hoffmann.
A médica infectologista Carolina Salume, coordenadora do Serviço de Infectologia e membro da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Rita, detalhou a situação de saúde da funcionária.
“De ontem para hoje, ela teve uma melhora, mas não quer dizer que ela já está evoluindo para desmame ventilatório; ela segue intubada, segue grave”, reforçou a médica.
Foto: Thiago Soares/Folha Vitória
Origem da infecção
A Sesa e o hospital ainda tentam entender a origem dessa contaminação. Todos os casos confirmados no vínculo epidemiológico são de funcionários que trabalhavam no setor “E”, que, segundo a Sesa e o hospital, atendia exclusivamente pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). A ala é uma enfermaria que abriga em torno de 40 leitos clínicos e leitos cirúrgicos.
Hoffmann esclareceu que não há prazo para finalização da investigação. A principal suspeita é de que se trate de uma contaminação ambiental, que pode ter sido causada por água, pelo ar-condicionado ou pelo contato com superfícies. O Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Espirito Santo (Lacen/ES) recolheu amostras da água, das superfícies e do ar-condicionado.
Dos pacientes, foram recolhidas amostras de sangue, urina e exames de imagem. Segundo o secretário, foram descartados os principais vírus respiratórios e o vírus da covid-19, portanto essas doenças já foram descartadas. Mas alguns tipos de vírus ainda estão em investigação, assim como bactérias e fungos.
Carolina Salume explicou como foram identificados os primeiros casos e de que forma o hospital percebeu que se tratava de um caso de contaminação coletiva.
“Os primeiros casos começaram a chegar na sexta (17) e no sábado (18). Eram casos que chegavam com febre, dor no corpo, dor de cabeça, prostração e, lá para o quarto dia, mais ou menos, de doença, apresentaram tosse e alguns casos de dor torácica. Quando a gente recebeu os casos isolados, a gente pensava que era uma pneumonia comum, um quadro viral, alguma coisa assim”, disse a médica.
Ela ainda explica: “A gente começou a relacionar os casos, porque não é comum ter três funcionários internados no nosso hospital. Funcionários jovens, imunocompetentes, sem nenhuma doença de base. A gente começou, no domingo de manhã, a relacionar esses casos, fazer exames e começamos a entender que tudo fazia parte de um mesmo quadro, de um quadro novo, que a gente não costumava ver por aqui”, detalhou.
Carolina Salume, médica infectologista do Hospital Santa Rita. Foto: Patricia Maciel/Folha Vitória
Carolina também explicou que o hospital já tomou medidas para higienização do ambiente.
As primeiras medidas foram higienizar 100% os aparelhos de ar-condicionado do setor; antes de higienizar, a gente colheu o material, trocou os filtros, trocou as torneiras, mudou a caixa d’água que trazia água para esse setor.”
Carolina Salume, médica infectologista do Hospital Santa Rita
A médica também esclareceu que o uso de máscara está sendo recomendado apenas no setor afetado, e não no hospital inteiro.